terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sobre ônibus e sobre dar a preferência

Imagem: Diva Depressão
Antes de qualquer coisa, quero dizer que as situações que desencadearam essa reflexão aconteceram em Aracaju. E só quem mora em Aracaju  disfarçada de capital da qualidade de vida  sabe qual a dimensão do caos da mobilidade urbana nessa cidade. Não é que a cidade seja ruim, na verdade, ela é linda, cercada de verde, com uma das orlas mais bonitas do país, um povo educado e simpático. Quando saio para a faculdade vejo empregados aparando a grama, um grupo da terceira idade praticando exercícios físicos na pracinha, quase nenhum lixo na rua. Mas se essa capital tem um defeito, esse defeito é a mobilidade. Os ônibus estão muito além do estado de "latas de sardinha" e sei que essa realidade pode parecer confortável perto do sufoco da população de cidades do Sudeste, mas vamos pensar bem: Sergipe é um estado pequeno, fácil de organizar. A população de Aracaju não é tão grande assim, menor do que a de Feira de Santana, na Bahia. Talvez a capital fique prejudicada nesse quesito pelas cidades vizinhas que formam a Grande Aracaju e também dependem do serviço metropolitano. Mas por que é tão difícil organizar? Uma cidade pequena assim... O caos é injustificável! 

Viajo muito na ponte Sergipe-Bahia (Aracaju-Salvador/Salvador-Aracaju/Aracaju-Feira-Riachão/Riachão-Aracaju) de preferência pela Bomfim, empresa que tem compromisso e respeita como gente os seus clientes, caso contrário ao da Viatran. Viajar cansa, ficar entre seis ou nove horas dentro de um ônibus, por mais que você durma, é exaustivo. Quando retorno à Aracaju, geralmente no domingo, estou o "lóro e os caburé cantando dentro". Chego tarde. Acordo cedo no dia seguinte para ir para a faculdade, quando não chego de madrugada e vou direto da rodoviária pra lá. Durmo as aulas inteiras, assino a lista de presença e não aguento ficar nem mais um segundo em pé. Corro para o Terminal do Campus, fico cerca de vinte a trinta minutos esperando um busu para o Terminal DIA, torcendo para ir sentada. O ônibus chega, eu já sei mais ou menos o lugar em que o motorista para e posso estar diante de alguma porta para correr para um assento no meio do empurra-empurra. Consigo, me acomodo, observo quem senta do meu lado, vejo (podem me chamar de preconceituosa, o que for, mas só estou tentando sobreviver numa "cidade grande") se a criatura é bem apessoada. Quando, enfim, respiro, me aparece do lado uma senhora com aquelas tradicionais sacolas de feira. O ônibus sai. Olho novamente para os lados, busco algum cavalheiro que esteja mais disposto que eu e faço aquele olhar simbólico que pula dele para ela. Dele para ela. Dela para ele. Não funciona. Continuo procurando, mas sem sucesso. Então, me levanto e cedo o lugar. Ela aceita, infelizmente.

Minha consciência não me permite fingir que estou distraída ou dormindo. Penso que se fosse minha mãe, meu pai ou minha avó, queria vê-los sentados, que alguém de bom coração se sensibilizassem e lhes dessem o lugar! Sei a vida que levam, do quanto um adulto/idoso que trabalha (mesmo em casa, como vó) se cansa, se estressa e desejaria, no mínimo, um lugarzinho sentado para não multiplicar as varizes e as dores.
Quando penso que estou cansada, me lembro dos meus pais que trabalham em cidades diferentes da que moram. Minha mãe acorda cedo e vai para o ponto arriscar uma carona de algum conhecido e quando não consegue recorre aos busus da vida ou aos "carros de linha". Meu pai, embora use o carro, vive para lá e para cá, resolvendo coisas tão cheias de números que lhe causam muitas preocupações. Então, o meu cansaço é bobo e procuro abstrair.

Eu acho que é isso, se eu pensar algo mais, voltarei aqui. 

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