quinta-feira, 13 de março de 2014

É por essas e outras que hoje declaro: Sou feminista!

É triste, muito triste ter que dizer isso, mas eu não amo meu avô paterno e nem o materno. Não dói dizer, pelo contrário, me alivia, melhor do que guardar sozinha. Como eu ia dizendo... É triste dizer, mas não dói. É triste porque eu queria que fosse feliz. Queria apenas que eles tivessem maior presença na minha família. Cordeiro, meu avô paterno — e que não chamo de avô — teve com a minha avó Flor dez filhos de nomes esquisitos. Afonso, o materno, deu à minha avó Hilza — a qual herdei o nome e que sequer tive o prazer de conhecer (morreu antes de eu nascer)  treze filhos, além dos outros tantos adotivos. Acho que toda família tem algum momento obscuro guardado no passado, os defeitos da minha ressurgiram há pouco tempo.

Cordeiro foi um homem de muitas posses, era dono de uma boa parte da nossa cidadezinha do interior e dos terrenos que cercavam a Barragem Grande, mas mesmo sendo afortunado colocava os filhos pequenos para vender os produtos da fazenda na cidade. Tinha muita influência justamente pelo dinheiro e geralmente conseguia as coisas com muita facilidade, costumava fechar os bares com os amigos e possuía muitas raparigas. Um machista imbecil e arrogante que subestimava minha avó e seus filhos aos seus caprichos. Meu pai e meus tios me contam das surras furiosas e dos severos castigos que ele lhes aplicava. Vó Flor não tinha que aguentar aquilo por muito tempo, como não aguentou e pediu o divórcio. Uma mulher naquela época precisava de muita coragem para encarar a vida sozinha: desempregada  porque mulher só servia para procriar  com nove filhos e uma desilusão amorosa. Os meninos mais criados e taludos foram dando conta dos menores, a mais nova tinha cerca de dois anos quando Cordeiro os abandonou. Um fardo terrível! Ele se mandou pelo mundo com suas várias raparigas e seu muito dinheiro a "aproveitar a vida", sem se lembrar de ninguém. Foi botando tanto filho no mundo que hoje deve somar uns trinta perdidos por aí. Tenho um tio de cerca de oito anos, mas só o vi uma vez por foto, ainda bebê, quando numa das visitas de Cordeiro ele fez questão de nos mostrar o que seu pinto mole ainda era capaz de fazer. Todo o seu glorioso império ia se acabando, pois tudo era gasto com presente para as "putas". Porque mulher que é comprada por dinheiro e presente, para mim, é puta. E as visitas e ligações dele para os meus tios começavam a ficar cada vez mais frequentes... Pedia dinheiro para comprar remédio, pois a velhice chegara e agora o seu vigor estava se esvaindo. Alguns filhos, com razão, lhe viraram as costas, mas meu pai — que de tão bom é besta, vez ou outra quando ele pedia, mandava-lhe um trocado. A velhice chegava cada vez mais implacável, as dívidas com presentes para as putas se acumulavam e sua aposentadoria ia pelo ralo. A coordenação motora e a visão já não funcionam mais como antes, tão pouco o seu pinto e por isso nem as putas o querem mais, imagine minha avó, pois ele ainda teve cara de pau de lhe fazer uma nova proposta. Foi espantado da casa dela a cabo de vassoura, que é a tradição de de vovó para gente sem vergonha (como um certo prefeito que quis comprar seu voto).

Amo e admiro minha avó paterna. Não posso dizer isso da materna porque não a conheci, mas todos os relatos que ouvi foram bons e engraçados.

Sem mais delongas, contei essa história para declarar que SOU FEMINISTA. Vou me envolver cada vez mais na causa e assim voltarei para contar outras tantas histórias. Os homens que se cuidem! rs 

2 comentários:

  1. Sim, os homens às vezes sabem como errar. Mas não acho que uma mulher deva ser feminista pelos homens e sim por uma causa mais íntima. Seus avôs fizeram e desfizeram, tocaram o terror, e talvez não mereçam nada - mas vieram e sobreviveram a uma época tão diferente que destoa de toda a luta feminista contemporânea. Aliás, nem vou entrar no mérito de discutir feminismo, pois tenho vários azedos com o movimento. Mesmo assim, essa é uma decisão que fará muito bem. Você enxergará o mundo de uma outra forma. O feminismo, seja perfeito ou não, abre os olhos das mulheres. Recomendo a leitura de "O Mito da Beleza", da Naomi Wolf! É minha bíblia :)

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    1. Acho que o machismo é uma herança história, Del. Entendo que ser feminista não é querer acabar com os homens, mas sim manter um padrão de igualdade e respeito entre todos. No entanto, acredito que o machismo condicionou essa vontade. E, por ser histórico, não dá para anistiar o passado. Não digo que sou feminista hoje apenas por esse episódio, contei mesmo para contextualizar, tenho outras tantas razões e cicatrizes ainda mais profundas.
      De toda forma, adorei ouvir o seu pensar e estou com a sugestão de leitura anotada! Muito obrigada e até!

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